Saturday, July 05, 2008

Cordas

Reporto-me à sexta-feira pós Rock in Rio. Dia doloroso após uma noite passada na Estação do Oriente, com os ares e as luzes lisboetas a rasgar a pele, com os ouvidos cheios de sonhos. Passei esse dia a dormir: no comboio com destino ao Porto que nos acolheu às seis da manhã, no chão da escola que me tem nos braços há três anos, na cama que me embala o sono todas as noites.
Saí de casa por volta das oito da noite para jantar num restaurante que me conhece pequena. Observo as pessoas e o espaço desde que sei olhar. O Carlos é um dos empregados desse restaurante. Conheço-o desde os meus três, talvez quatro anos. Abordou-me com palavras que não me recordo e que me levaram a explicar-lhe que o meu cansaço se devia essencialmente aos concertos da noite anterior. Falei-lhe de Moonspell. Do significado que têm para mim. Falei-lhe também de Machine Head e de seguida, de Metallica. De como foi uma vez mais, para além de ver, sentir Metallica. Nessa noite havia também, curiosamente, música ao vivo no restaurante. Enquanto falávamos do Black Album disse-me que me ia fazer uma surpresa. Sorri e silenciei-me, expectante. Passados minutos, perguntou a um dos músicos se podia pegar numa das guitarras. Começo assim a ouvir os primeiros acordes da Enter Sandman, numa similaridade soberba. Seguidamente, Nothing Else Matters e The Unforgiven. Confesso: extasiei. Dou um valor incalculável a actos de tamanha genuinidade, a tentativas de me falarem ao coração. O Carlos tocou guitarra, em tempos. Quando era mais novo foi estudante do Paulo Barros e começou a trabalhar com o intuito de pagar aulas numa escola de Jazz. Dissera-me nessa noite que há uns anos atrás dedilhava o Black Album de uma ponta à outra.
Há feridas que não cicatrizam. São poços imensos de luz.

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