Tuesday, July 24, 2007

Poço cristalino

“a roupa molhada, o Stop da GNR comigo molhada dos pés à Cabeça na A5”. Leio isto no Blog da Sophia (cinemuerte).

Reporto-me ao Verão de 2006. Oito corpos a deambularem sob um Sol tórrido que nos perfurava os ossos e se manifestava nos nossos poros. Caminhávamos para uma praia sem reservas, livres de expectativas, planos ou vontades.
Os pés ainda calçados na areia fina, fervorosa. Um mar aliciante numa tela pintada de sensações. O vento que nos abafava em beijos longos. Mais tarde, os ténis e as havaianas espalhados. A proposta. Senti as mãos sobre a anca, e entre gargalhadas primorosas e olhares incógnitos, caí sobre um poço cristalino, gelado. Oito corpos mergulhados, indiferentes aos olhares e comentários alheios.
Era eu, no meu vago senso de liberdade. Deitada sobre a areia com as calças de ganga extremamente pesadas e o top preto encharcado de água dissolvente. Dissolvente das minhas memórias, das tuas, das nossas. O sol libertino a lamber-me as arestas. Os espectadores minimizados à mais insignificante partícula, ao estatuto merecido.
O regresso. Os olhares incrédulos. A minha indiferença perante eles. Os meus fios de cabelo que pingavam pequenas gotas de vida, a minha roupa ensopada que nem o calor se atrevia a sentir. Os cafés e as esplanadas a abarrotarem de esqueletos-parasitas sem vontade própria. As ruas que nos eram tão óbvias como as veias das nossas mãos.
O fim de tarde. As escadas em direcção às paredes que diariamente me acolhem o sono. Um banho quente. E um amanhã é outro dia, como só assim o poderia ser…

2 comments:

Joana [ExpressingSilence] said...

O mar é, e sempre será, vida incarnada....

Sophia Cinemuerte said...

Belo Post. Sentido.*