- Nem imaginas quem faleceu. - Quem!? - O nosso vizinho. - O senhor que morava aqui ao lado? - Sim. Fez umas análises e detectou-se que tinha cancro no estômago. Já se tinha espalhado pelo corpo todo.
Penso que já estou habituada a senti-la bafejar. Não reconheço o seu hálito, mas acerta-me sempre que nem flecha.
Como muita gente sabe, sou uma pessoa com a capacidade de ouvir e apreciar diferentes estilos de música, desde o Gótico ao Metal passando pelo bom Pop que se fez nos anos 80 ao revolucionário (old-school) Punk. Hoje dediquei-me a sons mais acústicos. Dirigi-me à Fnac do Gaia Shopping para nadar no ocêano da Tartaruga de Azevedo Silva. Vibro imenso com música ao vivo, desde meros showcases a grandes concertos. Sinto sempre os timbres, os acordes, os olhares a esbarrarem-se contra as minhas paredes como num céu negro onde violentamente brota o Sol. De um "Vai Com a Chuva" estranhamente involvente, a um "Abutres" algo perturbador mas simultâneamente real e sincero, ficou-nos o Frio na espinha E a Fome por mais.
Teimou em não me deixar fechar as cortinas. Teimou em não me deixar morrer na almofada. Horas a fio a sentir o corpo duro e pesado sob os lençois frios. Minutos e minutos a mirar a pequena luz vermelha da televisão. Sabia que estava com as pálpebras manchadas de negro. Negro: puro negro. Ouvi tudo. O acordar dos vizinhos, os chuveiros a vomitar, as portas a baterem enfurecidas... Quase jurava que senti os ossos a emergirem dos caixões.
A razão ultrapassa-me completamente. Talvez porque conheça demasiado bem o motivo...
Obrigado aos que desde Setembro embarcaram comigo. Para o bem ou para o mal, lá estaremos novamente, quando o Verão adormecer e as árvores voltarem ao ritual erótico que tanto gosto. Lá estaremos, para mais um rasgo, para mais um capítulo.
- Procura as coisas; não deixes que elas te chovam... - Qual era o objectivo se elas chovessem? - Oh Inês... Tu não és uma pessoa "normal". É a questão da felicidade como falamos e eu escrevi. Tu e eu não nos contentamos com essa felicidade. Precisamos de outras coisas, precisamos de mais. E essas nunca chovem.
Yes I think I'm okay Walked into the door again Well, if you ask that's what I'll say And it's not your business anyway I guess I'd like to be alone With nothing broken, nothing thrown